ROCK SOUND 25 ICON
TWENTY ONE PILOTS
Um novo capítulo começou. Agora, vamos olhar para como chegamos até aqui. Tyler Joseph e Josh Dun passaram anos cultivando uma comunidade global de fãs apaixonados por suas variadas composições, shows enérgicos e contação de histórias intrínseca. Com seu novo álbum ‘Clancy’, eles refletem nos momentos musicais que mudaram suas vidas para sempre ao aceitarem seu prêmio Rock Sound 25 Icon.
Palavras
James Wilson-Taylor
Fotos
Ashley Osborn
Tradução Isabella Rigby e Ana Beatriz
Revisão: Frisa
Vamos começar olhando para 25 anos atrás quando a Rock Sound começou em 1999. Vocês obviamente ainda estavam na escola na época, mas quais memórias musicais vocês têm desses tempos?
JOSH DUN: Eu provavelmente só estava tocando o trompete na época. Foi o primeiro instrumento que comecei a tocar, mas simultaneamente também estava interessado na bateria. lembro entrar numa loja de música perto – na verdade tinha duas, uma chamadas Sam Ash e a outra chamada Guitar Centre. Eu sempre lembro de entrar nela e direto, tinha um porta-revistas com uma edição da Rock Sound. É, sem dúvida, uma memória enraizada, entrar na loja de música para procurar óleo de válvula para meu trompete ou baquetas ao mesmo tempo.
TYLER JOSEPH: Eu comecei a verdadeiramente apreciar música um pouco depois de Josh. Eu sempre amei. Mas não sei por que eu amava, se isso faz sentido. Não foi até eu completar 14 ou 15 que eu percebi porque eu amava, e era pelas notas e melodias. Então isso foi bem no limite que comecei a perceber que eu poderia criar música eu mesmo. Eu também acho que eu carregava a tocha de ser um pouco mais atrasado, ou atrás dos tempos, porque eu sempre interagia com pessoas que foram músicos ou compositores, e amantes de instrumentos musicais, por todas suas vidas. Para mim, foi uma transição mais longa. Na época, eu era muito interessado em atletismo e cartas de Pokémon. O mundo da música ainda não tinha me agarrado.
Ao envelhecerem, quais foram os primeiros artistas e bandas com os quais vocês mais se identificaram?
JOSH: Como eu falei antes, meu primeiro instrumento foi o trompete e meu avô me levava para a Orquestra de Jazz de Columbus aqui em Ohio. O diretor da orquestra era trompetista, tirava seu trompete e começava a tocar com a banda. eu pensava, “isso é tão daora”. Então comecei a me interessar pela bateria e por bandas grandes como Buddy Rich. Eu encontrava alguns vídeos no YouTube. Daí comecei a andar de skate e ir às lojas de música locais. Já contei essa história várias vezes, mas nós entrávamos (nas lojas) e víamos um cara aleatório que eu achava muito legal, com tatuagens e piercings, e pedia recomendações para ele. A música que eles recomendavam variava entre punk e hip-hop, pop e até jazz. No começo do ensino médio, a maioria da galera da nossa idade gostava de pop punk - Green Day, Blink-182, Sum 41 e coisas assim. Eu curtia muito andar de skate e tocar bateria ao som deles. Na época, muitas das pessoas sentiam essa angústia e era bom ter um pouco de pop punk fluindo na veia.
TYLER: Com certeza foi uma mistura. Ben Folds foi um deles. Honestamente, a primeira coisa que eu ouvi foram versões dele ao vivo, só ele e o piano. Me fez pensar que o piano era algo muito legal. daí comecei a gostar bastante de Reliant K. Penso que são heróis do pop punk pouco cantados. Eles não recebem o devido crédito por quão responsáveis são pelo que a cena é hoje. Então fico feliz em honrá-los e enaltecê-los. E então, The Killers e Muse também foram e ainda são responsáveis por me tornarem quem eu sou. É um pouco doido pensar no passado e perceber o quão sortudos somos de termos conhecido essas pessoas e conversado com elas, é uma loucura. É por isso que também amamos fazer coisas como essa entrevista de aniversário da Rock Sound, porque é tão legal fazer parte disso com tantos artistas incríveis que admiramos ou cresceram com a gente. Além disso, é sempre legal olhar para trás nessa jornada e perceber como temos sorte de poder viver disso.
Quando começaram essa jornada, quais são suas memórias da cena musical em Columbus, Ohio? Como eram aqueles primeiros shows?
TYLER: [O fato] de termos sido inclusos em lineups quando nem sabíamos realmente o que éramos e, ainda assim, ter dado certo, é uma evidência de [como era] a cena em Columbus. Penso que é porque a cena era tão dinâmica e eclética, desde sons mais pesados ao hip hop puro e ao pop punk. Era muito empolgante fazer parte de lineups com tantos tipos diferentes de bandas. Na época, estávamos em lineups com outras nove bandas. Tentavam colocar o maior número possível de bandas nos lineups, só para fazer com que algumas pessoas entrassem nas casas de show. Relembro com carinho a cena de Columbus quando começamos. Tem um número infinito de pessoas e fãs que nos deram uma chance no começo, o qual perdemos a conta, mas ainda devemos muito a eles. Ainda falamos sobre isso e relembramos alguns shows antigos e turnês, algumas coisas que aprendemos e as decepções. Tem muitas promessas e muitas pessoas que vêm e tentam entrar na sua órbita e alegar serem o seu caminho para o sucesso. Você percebe que eles também não sabem do que estão falando e então, aprendemos rápido a não apostar todas as nossas fichas em uma só coisa quando o objetivo era alcançar o sucesso. Não só isso, mas a gente acreditava que isso dependia de nós mesmos. Não estamos procurando o salvador ou ser a pessoa que conhece a pessoa certa. Carregamos essa atitude até mesmo depois de assinarmos nosso contrato - ainda vai depender de nós. Assinar um contrato era apenas o começo [do processo] de descobrir se iríamos nadar ou afundar.
Vocês foram construídos com base na sua reputação ao vivo e do amor por fazer shows. Naquela época, pouco antes de assinar contrato, vocês já tinham algum objetivo profissional maior em mente?
TYLER: Ainda penso que víamos [nossa carreira] apenas através lentes dos shows ao vivo. Então, o próximo passo era um salão maior com mais pessoas. Olhando para trás agora, percebendo que existe um outro lado do negócio quando se trata de promover músicas e ganhar força no cenário musical, ainda não entendemos como isso funciona porque isso aconteceu acidentalmente junto com nosso foco nos shows ao vivo. Tem um pouco de autoconsciência nisso. Não é necessariamente normal. Mas para nós, é assim que você se torna bem sucedido - tocando shows. Porque é assim que as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. Agora, se essas duas coisas realmente estão correlacionadas, nunca não sabemos, mas para nós é difícil separá-las. Então o objetivo sempre foi escrevermos músicas para um show, porque precisamos de uma abertura melhor, ou precisamos de uma transição para ir dessa parte para aquela. Penso agora que, conversando com algumas bandas, tem muitos artistas que estão lançando música e escrevendo músicas que não têm nenhuma aspiração de tocar ao vivo. É aí que percebemos que não falamos a mesma língua que esse tipo de pessoa que usa música dessa forma. Toda nossa linguagem de como falamos sobre música é por meio dos shows ao vivo, o que talvez nos atrapalhe de certa forma. Mas também nos mantém totalmente focados no que é o objetivo, que é fazer shows.
Depois que a formação estava totalmente definida e vocês dois faziam shows juntos regularmente como uma dupla, quando começou a fazer sentido para vocês? Quando vocês sentiram que tinham controle sobre como o show deveria ser?
JOSH: Tem um show que nunca vou esquecer. Na época, era eu, Tyler e o antigo baixista. Foi na data que previram que seria o fim do mundo (Nota do Editor - achamos que foi dia 21 de maio de 2011, que foi previsto para ser o dia do arrebatamento). Tínhamos um show naquele dia, então esperávamos poder fazer ele antes que o mundo acabasse.
TYLER: Isso é o quanto estávamos vendo as coisas através das lentes dos shows ao vivo - vamos pelo menos tocar três ou quatro músicas. Vamos torcer para que o mundo não acabe em uma de nossas músicas mais lentas. É isso que vai ecoar pela eternidade…
JOSH: Sim, acabar em ‘Trees’, seria incrível. Mas nosso amigo, o baixista, nos ligou de manhã e falou: ‘Não vou conseguir, estou doente’. Então, naquele momento, pensamos que poderíamos tocar o baixo pré-gravado do álbum em um amplificador. Era o começo dessa tecnologia, poder tocar com cliques e trilhas. Era uma coisa muito nova e um pouco controversa no mundo do rock na época. Mas queríamos fazer o show e precisávamos do baixo. Então roteamos tudo no computador, saindo da interface e entrando no amplificador de baixo, carregamos tudo e dirigimos duas, três horas para fazer o show. Montamos tudo onde, pela primeira vez, havia apenas bateria e piano no palco. Começamos o show com a faixa introdutória e então, de repente, tudo entra - a performance do Tyler, a bateria tocando, o baixo entrando perfeitamente no tempo certo. Nós dois nos entreolhamos e pensamos ‘Cara, isso é incrível’. Fizemos todo o show dessa forma e tudo correu perfeitamente. Nós pensamos 'acho que é isso. É assim que deveria ser'.
TYLER: Acho que do ponto de vista do público, eles acharam interessante, mas havia poucas pessoas lá. De uma perspectiva externa, definitivamente não foi um show bem sucedido. Mas para nós, foi o show mais importante que já fizemos. Foi incrível sentir que tudo se encaixou pela primeira vez. E foi nesse dia que o mundo quase acabou.
Como vocês se sentiram quando assinaram com a Fueled By Ramen? Foi assustador ou tiveram alguma preocupação ao darem o próximo passo?
TYLER: Podemos conversar filosoficamente agora, relembrando o que uma grande gravadora faz por uma banda. Mas eu gosto de relembrar o que isso fez por nós imediatamente, que foi dizer 'aqui está dinheiro para gravar um álbum do jeito que vocês sempre quiseram gravar'. Então, nós gostamos disso. Além disso, esse era um sonho que Josh e eu tínhamos, mas precisávamos da ajuda dos nossos amigos e familiares ao nosso redor. ‘Não, isso vai funcionar, vamos fazer isso’. Esse foi um momento em que fomos reconhecidos por alguém da indústria que pensava que poderíamos ter sucesso. No mínimo, assinar um contrato foi um impulso na nossa confiança. Uma das coisas mais valiosas para uma banda quando assina um contrato é a confirmação real de que o que você está fazendo é bom. Agora, isso pode se tornar uma validação não saudável e você pode pensar que cruzou a linha de chegada. Felizmente, não interpretamos dessa forma. Mas foi muito bom poder dizer aos nossos pais e dizer, ‘ei, tem um caminho aqui, realmente sentimos que podemos fazer isso’. E ao mesmo tempo, fomos assinados pelo John Janick na Fueled By Ramen e na semana seguinte ele foi embora. Lembro de estar no estúdio com Greg Wells (produtor) gravando nosso disco ‘Vessel’ quando recebi um telefonema do John dizendo que ele ia embora. Agradeço que ele tenha nos contado, mas Greg não ficou muito feliz com ele – por ele ter ligado bem enquanto tentávamos terminar esse disco. Já sentíamos o peso do mundo em nossos ombros, tentando gravar e lançar nosso disco de estreia em uma grande gravadora, e então foi como ter o tapete debaixo de nós puxado. Nosso contato [na gravadora], o cara com quem assinamos, que ficou de pé na sala e falou ‘eu quero assinar com vocês agora. Eu não quero que vocês vão embora sem assinarem’, aquele cara com o qual estávamos tão animados em trabalhar, foi embora antes mesmo de terminarmos de gravar. Digo tudo isso porque, olhando para trás, foi positivo para nós, porque nunca olhamos para a nossa gravadora procurando quem iria nos guiar ou quem iria nos guiar ao que deveríamos fazer a seguir. Isso realmente colocou a pressão de volta na gente no sentido de que tínhamos que tomar as decisões. Onde vamos sair em turnê? Onde vamos depois? Damos crédito a nossa gravadora, e especificamente a Pete Ganbarg da Atlantic, que está no setor de Artistas e Repertório, que nos deixou fazer o que quiséssemos. E deu certo. Eu acho que em um universo diferente em que John Janick ficou na Fueled By Ramen e dependemos da nossa gravadora para saber o que devemos fazer, essa poderia ter sido uma carreira diferente para nós. Poderíamos ter música diferente da que temos agora. Nós com certeza teríamos. Então fico feliz por ter dado certo da forma que deu para a gente, por termos percebido que apesar daquele momento de validação quando assinamos, ainda somos nós que tomamos as decisões. Nosso destino vai ser decidido por nossa ética de trabalho e nossa tomada de decisões e o que temos convicção em fazer. Qual o tipo certo de música e a maneira correta de mostrá-la para o mundo? Quando uma banda diz que assinar com uma gravadora é seu objetivo principal eu sempre temo por eles - que eles entregarão seu bebê para outra pessoa. Felizmente, nem tivemos a oportunidade de fazer isso e agora, olhando para trás, estou feliz que foi assim.
Você mencionou que finalmente conseguiu gravar algumas de suas músicas mais antigas da maneira que sempre quis. O que especificamente você queria adicionar à mixagem da versão 'Vessel' dessas músicas?
TYLER: Um bom bumbo. Você sabe como é difícil encontrar um bumbo que soe bem quando você não tem contrato com uma gravadora? Agora, basta entrar no Splice ou algo assim e encontrar um bom bumbo. Mas conseguir uma parte bem gravada, com o equipamento certo, combinado com a performance certa - isso é o que, pelo menos para mim, foi mais empolgante. Para o Josh, talvez nem seja preciso dizer, porque ele é o baterista que faz isso. Mas quando eu ouvi a verdadeira bateria naquelas músicas, fossem elas novas ou tirando elas de um grupo de músicas antigas para criar ‘Vessel’, tudo ganhou vida. Nós finalmente tínhamos os recursos, o equipamento e a equipe para gravar aquela energia ao vivo, capturá-la e tê-la sempre marcada no que a música era.
JOSH: Foi incrível. Como Tyler disse, na época, as coisas eram definitivamente bastante diferentes em termos de quais eram os nossos objetivos a curto prazo. Tentávamos não gastar dinheiro criando música e simplesmente fazíamos isso na casa do Tyler para que tivéssemos algo para tocar ao vivo. Enquanto agora, as pessoas estão tentando lançar músicas com a melhor qualidade possível, seja nas redes sociais ou em plataformas de streaming, e conseguir o maior número de streams possível. Mas estou muito feliz por termos seguido esse caminho porque me lembro de estar naquele estúdio com Greg e Tyler e sentar atrás da bateria pela primeira vez com equipamentos de estúdio muito bons. Foi muito gratificante ouvir aquele tipo de bateria ali. Alguns dos vocais [gravados] na casa de Tyler ficaram e alguns foram regravados. Fizemos isso música por música. Mas sim, acho que a bateria foi a maior mudança.
Vocês também tinham orçamento para fazer videoclipes em grande escala para acompanhar seus singles. O que lembram sobre a experiência de fazer isso?
TYLER: Bem, tivemos muita sorte (e essa é outra coisa que eu sempre falo para artistas mais jovens) em encontrar alguém que pudesse nos fornecer os visuais e que também é apaixonado por isso. Para nós, foi nosso amigo Mark Eshleman. Ele estava com a gente antes de assinarmos com a gravadora, tentamos fazer videoclipes bem no começo. Já estávamos familiarizados com o que um visual pode fazer para ajudar a elevar, ou pelo menos ajudar a comunicar o que a música está tentando dizer. Então sabemos da importância de fazer isso. Acho que o primeiro vídeo que fizemos depois de assinarmos com um orçamento real foi ‘Holding On To You’. Olho para trás e tenho orgulho daquele videoclipe porque também o vejo como uma experiência de aprendizado, em que todo o equipamento extra, todas as pessoas extra e todas as coisas extra, a boa iluminação - sim, isso pode elevar um vídeo musical, mas se a ideia não for clara, não importa. Nossa falta de experiência foi na verdade uma vantagem e acho que isso é verdade não apenas com videoclipes, mas também com música e criação em geral. Estou em constante luta com isso todos os dias conforme eu melhoro em algo como composição ou produção. Enquanto estou acrescentando em um lado, onde estou melhorando, estou tirando do outro [lado] que é tão valioso quanto, e isso é uma ingenuidade no processo de criação. [Eu acredito que] isso seja uma vantagem, não saber como fazer algo e ir tentando. Há uma confiança que vem com isso. É aí que muitas das melhores coisas são criadas. Conforme envelhecemos, aprendemos mais coisas e as adicionamos às nossas habilidades, [mas] esperamos não perder a confiança que vem em não saber fazer algo. Quanto a fazer videoclipes, aprendemos que é mais sobre a ideia. É mais sobre resolver problemas dentro das restrições, com a falta de recursos. Alguns dos meus vídeos favoritos vieram depois disso, quando novamente éramos apenas nós e Mark filmando como costumávamos fazer.
JOSH: Acho que isso nos ensinou um pouco sobre colaboração também. Ao trabalhar com um diretor ou equipe de vídeo, existe um equilíbrio entre quanta criatividade você permite que eles coloquem no seu projeto e o quanto você limita e mantém da sua. Recentemente, tivemos nosso aniversário de 10 anos do álbum ‘Vessel’ e fizemos uma livestream. Tinha um vídeo em que fazemos cabelo e maquiagem pela primeira vez em nossas vidas, para aquele primeiro videclipe que fizemos. A mulher fez um moicano no meu cabelo. E eu estou ali, ‘acho que era isso que deveria acontecer, porque eles são profissionais, e eu vou deixar eles fazerem o que eles quiserem’. Daí depois, Tyler e eu conversamos em privado e eu falei, ‘Eu odiei isso, isso está estúpido. Então aprendemos naquele momento que ainda é nosso projeto e nosso videoclipe, então nós podemos assumir a autoridade criativa. Se você simplesmente der todo o poder e controle criativo a uma gravadora ou produtor, isso pode mudar quem você é às vezes, talvez para pior.
Em termos daquele décimo aniversário, como vocês refletiram no som e no estilo do ‘Vessel’ ao olhar para trás?
TYLER: Eu olhei para a produção. Ouvindo novamente, nós não sabíamos o que estávamos fazendo. Nós éramos ingênuos. Aquele som era um som pronto que qualquer um podia utilizar. Aí você começa a querer encontrar seus próprios sons. Eu quero criar algo que ninguém mais sequer poderia recriar. E apesar de isso ser muito bom, e na maioria das vezes melhorar a música e ser uma nova forma de expressão, você também percebe que você não deveria ser pego procurando um som totalmente novo. Qual é o ponto de vista? O que a letra está tentando dizer? O que você está tentando comunicar? Essa é uma música para você ou para eles? É para nós? Para quem é? Percebendo que tinha tanta clareza nas mensagens das músicas. Eu ouvi ‘Vessel’ novamente e percebi o quão especial isso é e estou tentando manter e aprender com isso. Acho que muitos artistas, pelo menos para mim, talvez ouçam as coisas que eles já fizeram e sintam um pouco de vergonha alheia porque eles notam as áreas onde poderiam melhorar. Eles se sentem desconfortáveis ouvindo músicas antigas ou tendo obras antigas colocadas na sua frente. O jeito que eu lido com isso é na realidade tendo orgulho do quão datado é. Ela representa quem você era em um certo momento, e isso é algo para se ter orgulho, mesmo que você veja alguns dos defeitos. Representa quem você era naquele momento. É o melhor que você podia ter feito e então você se orgulha daquela versão antiga de si mesmo.
Também foi por volta daquele tempo que vocês tiveram alguns de seus primeiros shows no Reino Unido.
TYLER: Isso nos leva de volta para quando estávamos conversando sobre assinar um contrato. Eu me lembro que nós mandamos um e-mail tipo, ‘Oi, gravadora do Reino Unido, estamos indo para o Reino Unido’. E foi tipo ‘Como assim? Nós não estabelecemos nenhuma base, nós ainda não temos um plano’. Isso fazia parte do sentimento de que ainda tínhamos que levar todo mundo junto e não estávamos esperando que alguém nos levasse. Nosso empresário, Chris Woltman, nos ajudou a perceber muitas coisas. Ele era quem estava dizendo ‘nós precisamos ir, precisamos sair daqui. Temos que mostrar para o mundo do que somos capazes e especificamente, precisamos ir até o Reino Unido’. Eu e o Josh amamos tantas músicas que são de lá que mesmo se fossemos tocar em um local pequeno, o fato de que seria no Reino Unido seria muito importante para nós. E é o que fizemos. Nós fomos e tocamos em um lugar bem pequeno. Acho que na época era chamado Barfly. Eu só me lembro de ser muito frio. Me lembro de pensar ‘Mal posso esperar para tocar o show pra poder esquentar meu corpo’. Me lembro disso e de alugar equipamento. Você tem sempre o equipamento que você mais gosta - seu piano, seu suporte de microfone, sua bateria - mas quando você viaja através do globo, você não tem dinheiro para enviar suas coisas.
Eu me lembro de estar com muito frio e tocando instrumentos que nós nunca de fato tocamos antes. Mas isso só se somou ao entusiasmo de um show que seria meio imprevisível e do qual estávamos meio inseguros em relação a como sairia. Eu ouvi histórias daquele primeiro show que nós tocamos no Reino Unido de que havia vários agentes de talentos e pessoas da nossa empresa que eles convocaram para tratar aquilo como um mostruário. Eu ouvi isso desde então porque eles realmente não queriam nos contar naquela época. Acho que nós éramos bem polarizados. Tiveram muitas pessoas naquele local que não entenderam isso direito. Por sorte, o Chris e a nossa empresa nos protegeram de alguns daqueles primeiros olhares críticos direcionados para nós no Reino Unido. Mas, de alguma forma, nós ainda assim tínhamos fãs lá. Lembro que eu pensei ‘O quê? Como é que eles sabem?’, então não importava o que qualquer um daqueles críticos tinha para dizer naquele momento, porque nós percebemos que era tudo extracurricular comparado com a nossa conexão com a galera que estava ali na primeira fileira cantando de volta para nós. É por isso que nós voltamos de novo e de novo.
JOSH: Antes disso, tivemos conversas também, porque nós crescemos aqui em Columbus. Então podemos olhar ao redor e ver o que as pessoas estão ouvindo ou até como se vestem e falam. Nós podemos fazer músicas que achamos legais e que achamos que nossos amigos e familiares também vão achar legal porque conhecemos eles e eles estão em nossos arredores. Mas vindo para o exterior, para outro país com uma comunidade diferente de pessoas, nós não tínhamos certeza. Eles estão usando as mesmas coisas que nós? E ouvindo as mesmas coisas? Será que vai se traduzir bem? Está começando a funcionar aqui, mas será que vai funcionar por lá, nós nem sabemos se as pessoas vão comparecer. E se elas forem, será que vão gostar? Será que vai fazer algum sentido? Como o Tyler disse, havia pessoas que estavam lá para nos ver. Foi um sentimento muito legal e de validação. Apesar de termos ficado muito nervosos com isso, só tornou tudo mais divertido.
Esse fandom dedicado continuou crescendo, principalmente no Reino Unido. Existem grupos inteiros de amizade que se encontraram em seus shows ao longo dos anos ou através da criação de fan arts ou covers. Em que momento você percebeu que havia realmente uma comunidade em torno da banda?
TYLER: É uma pergunta pesada porque em vários aspectos, nós não esperávamos isso. Quando você está sonhando com o que quer fazer, você não consegue enxergar muito adiante. Em certo ponto, começa a ficar um pouco nebuloso. É tão distante, tão longe e tão grande que que existe apenas algumas partes que estão em foco quando você está sonhando com o que quer se tornar. Obviamente, tem muitos acontecimentos desconhecidos que se revelaram e acabaram sendo prejudiciais para o seu sonho - ‘Oh, eu não esperava por isso’ ou ‘Isso está realmente tornando tudo muito mais difícil’. O que você faz é pensar ‘eu acho que terão coisas no futuro que eu não posso ver que vão tornar tudo muito difícil’ para que você esteja preparado para isso. Eu vou guardar energia o suficiente para poder superar cinco obstáculos gigantes ao meu sonho. Você tem aquilo guardado, preparado para ser utilizado. O que você não vê são as coisas que são positivas. É o meu sonho, por que eu não pensaria em todas as coisas positivas? Todas as coisas gloriosas e incríveis do meu sonho, aquelas que provavelmente já estão em foco. É meu sonho, por que eu não as teria trazido para o foco? As coisas que estão fora de foco deveriam ser todas as coisas negativas. E essa é uma das melhores partes da nossa história, é que tiveram coisas positivas do nosso sonho que nós não esperávamos. Uma das coisas mais positivas que estava fora de foco naquele momento foi de fato o impacto que a nossa música teve em uma comunidade de pessoas, e como essa comunidade interage entre si. Como você consegue prever isso? Essa é uma das coisas que também nos faz continuar. Eu me pergunto se isso não tivesse entrado no nosso foco, se isso não fosse uma parte do que Twenty One Pilots é, se ainda estaríamos fazendo isso. Então é interessante que nós nem tínhamos a capacidade de imaginar o quão impactante nossos fãs seriam para nós. É uma história incrível. Nós devemos muito a eles… muito dinheiro (risadas).
Com o lançamento de 'Blurryface', vocês conseguiram seu primeiro álbum Nº 1 nos EUA. De repente você tinha singles sendo tocados nas rádios pop também. Como vocês navegaram depois de serem colocados debaixo desse holofote ainda maior?
TYLER: Quando tudo começou a acontecer conosco em torno de ‘Blurryface’, não era nada para nós. E eu não quero minimizar isso. É porque muitas pessoas, quando se gabam de muito sucesso, eles sentem que têm um convite para pular em um rio que vai levá-los o mais longe que quiserem. Mas inevitavelmente, com a correnteza e a forma que o rio faz curvas, é quase como se você não tivesse controle. Você sabe que recebeu o convite, você encontrou o rio, e é melhor que você pule nele, porque vai construir sua carreira. Não é como foi conosco porque na verdade, nós só adicionamos à nossa caixa de ferramentas de coisas que já sentíamos que estavam funcionando. Nós definitivamente alcançamos o sucesso mainstream, nós tiramos proveito disso. Mas algo que nós esquecemos, e que muitas pessoas esquecem, é que antes de ‘Stressed Out’ tocar no rádio, nós tínhamos 85% de ingressos vendidos na nossa turnê de verão nos Estados Unidos. Eu não estou tentando me gabar. O que eu estou dizendo é que quando [Stressed Out] chegou até as rádios, só havia espaço para algumas pessoas a mais verem [nossos shows]. Nossa primeira grande turnê estava cheia de fãs que não foram apenas por conta de algo [que ouviram] no rádio. Era simplesmente perfeito dessa forma porque estabeleceu como nossos shows seriam, a cultura e a filosofia que nós tínhamos em relação a música. Então eu acho que se tivesse sido um pouquinho diferente, cronologicamente, com ‘Stressed Out’ ficando famosa mais cedo, ou com nós tendo músicas no Top 40 mais cedo, aí nós estaríamos correndo para corrigir o curso e construir a rede para captar todas as novas pessoas. Eu acho que essa seria uma banda diferente. Mas não funcionou dessa forma. A ordem foi perfeita para mantermos nossa cultura e nosso relacionamento com nossos fãs e ainda poder utilizar parte desse sucesso mainstream da forma perfeita. À medida que envelhecemos, acho que olhamos para trás e percebemos o quão especial isso é. No momento nós não sabíamos. Nós achávamos que era apenas o que acontecia. Não é assim que acontece. Percebemos agora que somos muito sortudos.
JOSH: É estranho, porque às vezes nós conversamos e relembramos como foi quando nossos sonhos se tornaram realidade. As visões que nós tínhamos nos primeiros dias quando nos tornamos amigos estavam acontecendo bem diante de nossos olhos. Mas é estranho porque nós dois nos sentimos exatamente do mesmo jeito, pensando que tínhamos outro show de noite, ou que estávamos saindo em turnê. Era normal para nós sairmos em turnês, mesmo que [os shows] estivesse ficando maior e maior e com cada vez mais pessoas. É como se você entrasse em um ofurô de temperatura ambiente e lentamente aumentasse a temperatura e quando você percebe, está em 100 Graus Fahrenheit (37 Graus Celsius). É um negócio maior e eu acho que agora nós entendemos isso mais do que antes.
TYLER: Agora nós finalmente olhamos um para o outro e podemos sorrir. Você acredita nisso? Isso aconteceu.
JOSH: A diferença também é que depois de cada show, até hoje, temos uma reunião com um grupo de pessoas importante e conversamos sobre como aquele show poderia ter sido melhor. Então durante aquele momento especialmente, estamos tão hiper focados em todos os elementos do show e em tornar tudo tão bom que, de certa forma, faz com que seja um pouco mais difícil absorver tudo o que está acontecendo.
Outro foco em torno desse álbum foi a narrativa e história mais ampla que você criou. Como foi seu processo de composição enquanto explorava esse lado da banda?
TYLER: Eu amo ouvir uma boa história e amo me achar em outras histórias. Então quando começamos a criar música, eu queria criar uma história também, uma dentro da qual as pessoas poderiam se achar ou se inspirar, e é como criamos a história de ‘Blurryface’ e quem ele representa. Eu percebi que quanto mais e mais detalhe e história de fundo eu colocava nessa narrativa, mais forte nossa base ficava, não importa o quão loucas as coisas ficavam. O que quero dizer é que quando você está numa banda que tem uma cena específica, não há regras. Não há delimitações ou limites para nós, musicalmente. Então eu sabia que sonoramente, nós queríamos ter a liberdade de ir para onde quiséssemos. Mas precisávamos de algum tipo de âncora, e para mim a história, as letras, o ponto de vista e a narrativa que navega por todas essas músicas - essa era a âncora para nós. Estávamos desesperados por isso. Eu sei que eu estava como compositor. Eu precisava tirar de algum lugar. Precisava de um ponto de vista e de uma história que eu estava animado em contar. É por isso que [a narrativa] é tão importante para nós, a história do Blurryface que depois se transforma na história de Nico and the Niners nessa cidade de Dema e toda a história que envolve todos esses personagens. A antiga batalha do bem contra o mal, mas contada de uma maneira um pouco diferente. Esperamos que seja com uma perspectiva diferente e uma ordem diferente de palavras para contar a história, mas ainda é uma história antiga. E isso é algo que estamos muito orgulhosos e ansiosos em continuar a contar.
Olhando para o seu próximo lançamento, 'Trench', você quase poderia argumentar que ele estava à frente de seu tempo. Isso pode parecer estranho, visto que estamos voltando apenas alguns anos, mas no espaço da música alternativa, há agora muito mais bandas explorando essa mistura de sons e incorporando histórias maiores. Como você reflete agora sobre aquela época e aquele álbum?
TYLER: Tenho uma relação de amor e ódio com nossos discos anteriores por diferentes razões. Como eu disse, só preciso me lembrar da data e hora em que isso aconteceu - é isso que éramos. Eu acho que para cada ação há uma reação, certo? Meio clichê, mas eu olho as tendências e, apenas como compositor, é uma reação perfeita a ‘Blurryface’. Acho que talvez se fizéssemos tudo de novo, eu provavelmente não faria [o Trench] como uma reação tão dinâmica ao que havíamos acabado de fazer. A cada passo, eu teria tentado ficar um pouco mais comprimido, fazendo os altos talvez serem um pouco mais baixos e os baixos talvez serem um pouco mais altos. Mas como indivíduos e como banda, essa é a história que estávamos contando, ao dar um passo atrás, estou muito orgulhoso dela. Mas ainda está bem fresco.
Vocês iniciaram toda a campanha 'Trench' aqui no Reino Unido com um show único na Brixton Academy de Londres. Foi uma noite muito especial e, mais uma vez, demonstra o seu relacionamento de longa data com este país.
TYLER: Josh é melhor do que eu nisso, mas eu raramente lembro de shows específicos. Eu não sei se preciso descarregar [a memória do show] para poder abrir espaço para a próxima coisa. Mas também é o jeito que sempre fui minha vida toda. Lembro nomes e rostos, mas não tenho um bom senso de direção. Não consigo lembrar eventos específicos mas também penso que consigo lembrar informações valiosas. Não sou bom em lembrar shows específicos. Mas tenho que dizer, quando começamos o ciclo da turnê no Reino Unido, que aquele é um de talvez três ou quatro shows que consigo extrair da memória e reviver. Aquele foi um show especial, um que nos solidificou e nos fez pensar ‘Cara, se eles nos tiverem, nós adoraríamos ser uma banda do Reino Unido’. Esse é o sentimento até hoje. Então sim, que show incrível. Eu lembro de estar no corredor ou na escada, tinha uma janela e dava para ver as pessoas esperando na fila. Como Josh mencionou antes, você se preocupa com as diferenças culturais quando você atravessa o oceano para ir para outro país. Isso vai se traduzir? E aquele foi um momento tão poderoso para nós. Isso também reforçou a confiança de que o que estávamos criando e dizendo, valia a pena criar e valia a pena dizer. Como compositor, e como banda, algumas vezes você se pergunta ‘isso vale a pena? Isso é mesmo bom?’. Que validação incrível poder abrir esse ciclo no Reino Unido.
Deve ter sido uma validação igual retornar ao Reino Unido naquele ciclo e ser atração principal no festival de Reading & Leeds.
JOSH: Sim, foi incrível. Relembramos as decisões que tomamos que nos levaram até lá e se nossa situação atual poderia ser diferente. Eu lembro que, no começo, tivemos a oferta de que eu e ele tocássemos na Warped Tour nos Estados Unidos. Crescemos vendo vídeos de bandas tocando na Warped Tour e pensamos, ‘precisamos fazer isso’. Mas nosso gerente falou ‘acho que vamos deixar passar porque acho que esse verão vamos fazer vários festivais diferentes’. Pensamos ‘o que você está falando?’. Mas no final, isso nos levou a tocar no Reading & Leeds. Nós nos aproximamos assistindo a filmagens de festivais, especificamente festivais do Reino Unido, então estar lá mesmo na primeira vez que tocamos [no Reading Festival, em 2016] foi muito legal. Se não tivéssemos feito isso, quem sabe se teríamos acabado sendo a atração principal do Reading & Leeds anos depois. Esse tipo de coisa é legal de pensar e relembrar. Obviamente, não há como saber. Mas até essa conversa é legal, porque você pensa em quantas decisões poderiam ter sido tomadas ao longo do caminho que realmente teriam mudado a trajetória do que estávamos fazendo e mudaram completamente nossas vidas.
A sequência do 'Trench' foi o 'Scaled and Icy', que levou a narrativa a um novo lugar e, por meio de coisas como a livestream, apresentou a história de novas maneiras. Quais foram os desafios na criação desse novo capítulo da narrativa?
TYLER: Quando penso em ‘Scaled and Icy’, uma palavra que vem em mente é ‘incerteza’ porquê o mundo em que lançamos aquele conjunto de músicas era um mundo muito incerto. Ele realmente desafiou as lentes através das quais nós tínhamos criado músicas não lançadas, que eram os shows ao vivo. Quero dizer, era tudo o que sabíamos [fazer]. Então em 2020, nossa realidade mudou radicalmente. Buscávamos uma nova forma de lançar música e, honestamente, estou orgulhoso do que fizemos. Eu nunca trabalhei tanto na minha vida então não tenho arrependimentos. Mas eu não gostaria de tentar lançar música nesse tipo de cenário nunca mais. Eu penso em 'Scaled and Icy' como um disco que nós mesmos produzimos e mantivemos super próximos do peito, e não sabíamos como seria a turnê porque era 2020. Estou muito orgulhoso de algumas das músicas e eu vejo isso como um preparativo perfeito para o que vem a seguir.
Quando vocês finalmente tocaram essas músicas ao vivo e viram a reação do público, alguma coisa surpreendeu vocês ou mudou a maneira como se sentiam em relação a elas?
TYLER: A música que mais se destacou para mim foi ‘Mulberry Street’, não percebi que seria uma canção tão coletiva, divertida e celebratória. Não foi até poder tocar ela na frente do público que percebemos tal coisa. Estávamos determinados a garantir que ‘Scaled and Icy’ não se tornasse apenas um disco que foi lançado num tempo onde as pessoas estavam super inseguras. Houve um grande intervalo de tempo entre o lançamento e o momento em que pudemos tocá-lo. Pelo menos maior do que estamos acostumados. Acho que aprendemos muito sobre as músicas nesse intervalo. Para mim, músicas como 'Shy Away' e 'Mulberry Street' realmente se destacaram como músicas importantes para nós como banda e para o nosso show. Precisávamos dessas músicas para o nosso show. Não que elas ficarão para sempre em nossa setlist, porque essa setlist sempre mudará um pouco, ou dramaticamente, dependendo do que estamos tentando realizar. Mas há algumas faixas realmente formativas nesse disco para nós como banda.
JOSH: Acho que ‘The Outside’ também. Durante o show, a maior mudança que fizemos em muito tempo foi adicionar membros à banda [para o show] e logo antes da música, há uma introdução em que a banda aparece, todos tocam e têm um pequeno momento de destaque. De certa forma, foi quase como ouvir o som do baixo saindo daquele amplificador naquele primeiro show para nós dois de novo, mas no sentido oposto.
TYLER: A mesma emoção que sentimos quando ouvimos uma faixa de baixo passar por um amplificador de baixo como apenas uma faixa foi tão emocionante quanto ouvir um baixista de verdade tocando baixo no palco conosco, mais de 10 anos depois. Eu estava tão animado quanto. Nunca pensei dessa forma...
JOSH: Sim, é interessante. Tyler e eu já conversamos sobre ter alguns caras tocando no palco conosco antes e isso realmente traz uma energia divertida e agradável de se ter. O núcleo desta banda somos eu e Tyler, mas ter esses caras é como uma extensão de nós musicalmente e energeticamente. Então, quando eles aparecem e começam a tocar aquela música, sinto que ela ganha vida.
TYLER: Acho que agora, olhando para trás e vendo em plano maior, 'Scaled and Icy' foi o momento em que aprendemos como nos sentiríamos ao adicionar mais jogadores ao palco, e como seria visualmente também. Só isso já torna o ciclo importante, apenas para aprendermos sobre essa mudança em nosso show ao vivo e como expô-la, mas também continuarmos fiéis a nós mesmos no processo. Essa é provavelmente uma das coisas mais importantes que 'Scaled and Icy' fez por nós.
Quando as pessoas lerem isso, vocês terão acabado de dar início à próxima era da banda. Embora vocês não queiram revelar muito ainda, conte-nos um pouco sobre sua abordagem geral para este novo disco.
TYLER: O próximo disco em que estamos trabalhando é como o fim da história. E quando digo a história, não quero que as pessoas pensem que é o fim da banda, embora isso possa ser uma boa jogada de marketing. Mas há um fim da história e estamos animados com isso. De ‘Vessel’ a ‘Blurryface’, a ‘Trench’, a ‘Scaled and Icy’ e a esse novo disco, acho que vamos conseguir juntar tudo e nos orgulhar muito disso. Esse é o meu objetivo. Quero poder olhar para essa história e ter muito, muito orgulho dela. Precisávamos disso quando éramos uma banda mais jovem, quando sonoramente podíamos ir em qualquer direção. A narrativa nos manteve ancorados.
A última vez que tocaram no Reino Unido, fizemos um vídeo perguntando aos seus fãs que esperavam na fila sobre o que a banda significava para eles. Então, para encerrar essa conversa retrospectiva, vamos terminar com a mesma pergunta – o que significa Twenty One Pilots para vocês?
JOSH: Bem, a banda mudou a minha vida. Lembro de bem no começo, talvez antes de Tyler e eu tocarmos juntos, ter uma conversa sobre música, o que é e o que ela significa. Ao longo de nossas vidas, nós dois vivenciamos as jornadas do que o cérebro humano pode fazer com você. Nem sempre é um caminho fácil todos os dias. Eu acho que Tyler e eu realmente aproveitamos muito a música para ajudar com isso, e tendo uma conversa sobre isso, nós dissemos: 'cara, se pudéssemos fazer e lançar músicas que ajudassem uma pessoa ao longo da vida, lidando com épocas difíceis, isso valeria a pena.' E isso foi muito além. 12 anos depois de estar numa banda, há uma fila de pessoas para os shows. Ver, perceber, valorizar, e ouvir histórias de como isso impactou positivamente as pessoas, isso é o que Twenty One Pilots significa para mim.
TYLER: É difícil realizar os seus sonhos. Mas não está tão distante como algumas pessoas pensam. Penso que o que o Twenty One Pilots me ensinou e o que significa para mim é que quando você é apaixonado pelo que se faz, e tenta combinar isso com a confiança de que o que você está fazendo é bom, isso vai muito mais além do que ter todo o talento do mundo ou todas as ligações do mundo ou todo o conhecimento – todas essas coisas que atrapalham a sensação de que você consegue. Lembro de quando pensei pela primeira vez 'quero escrever músicas, quero tocar em shows', eu passava o tempo com pessoas, até mesmo da cena local de Columbus, Ohio, que sabiam muito mais do que eu sobre os equipamentos e composição de música, que eram melhores com seu instrumento, conheciam mais pessoas na indústria, tinham mais ligações. Foi nesse momento que senti que só queria desistir. Não tinha como eu alcançar o nível deles, eu tenho que aprender tudo isso, conhecer todas essas pessoas. Algo em nós dizia: ‘Não, você não precisa fazer tudo isso, apenas continue.’ Agora eu olho para algo que quero fazer, entender, criar ou me tornar e por causa do Twenty One Pilots, agora percebo que todas aquelas barreiras entre mim e me tornar essa coisa não existem. Mas você ainda consegue vê-las, e sente que não consegue quebrá-las. Mas, na verdade, você só tem que passar por elas. Não está tão distante. Não sei se isso faz sentido. Mas eu já vi de formas diferentes. Agora que eu sou pai, quero colocar a mesma paixão ou propósito em uma pequena criança. Como elas são? O que elas querem ser? O que elas sonham em ser? E não só para mim, mas para elas verem que a história de Twenty One Pilots é algo que deve mostrar para eles que sim, você pode fazer isso. Não sendo tão dramático, mas não há razão alguma que explique por que isso funcionou. Se você está escrevendo no papel todas as razões pelas quais você acha que seus sonhos não vão existir, então você está olhando para a coisa errada, porque isso não é um obstáculo tão grande para superar.
QUOTES
“Tem um número infinito de pessoas e fãs que nos deram uma chance no começo que perdemos o contato, mas ainda devemos muito a eles” - Tyler Joseph
“Era uma coisa muito nova e também um pouco controversa no mundo do rock na época.” - Josh Dun
“Nosso destino vai ser decidido por nossa ética de trabalho e nossas decisões e o que nos sentimos convencidos em fazer.” - Tyler Joseph
“Depois de cada show, até hoje, temos uma reunião com um grupo de pessoas importante e conversamos sobre como aquele show poderia ter sido melhor.” - Josh Dun
“Então em 2020, nossa realidade mudou radicalmente. Buscávamos uma nova forma de lançar música.” - Tyler Joseph
“Ao longo de nossas vidas, nós dois vivenciamos as jornadas que o cérebro humano pode fazer com você” - Josh Dun
0 Comentários